
Uma grave contradição dos nossos tempos atuais é o fato de que a humanidade alcançou estágio elevado de desenvolvimento na cultura, conhecimento, artes, ciência e tecnologia, no entanto, cresce o encantamento da opinião pública pelo bizarro, violento, estúpido ou de escassa qualidade.
Nota-se esta tendência bastante por aqui, mas também pelo mundo todo, em maior ou menor intensidade.
Em décadas anteriores ocorreu queda de qualidade educativa e cultural no rádio e, especialmente, na televisão, em busca da maior audiência. Surgiram, por exemplo, os programas que expunham deformações físicas de pessoas ou situações patéticas e assim cativavam o público. Logo a seguir vieram (e não foram uma criação brasileira) os chamados "realities shows" com o exagero de exposição de intimidades ou cenas ridículas para entusiasmo da massa de apreciadores. Criou-se um conceito de celebridades e "sub-celebridades" que não se refere a relevantes serviços ou contribuições à sociedade, pelo contrário, trata de pessoas com comportamentos exóticos e condutas questionáveis ou meramente exibicionistas.
Na atualidade, essa tendência ao grotesco como imã para atenções e emoções do público chegou à política e à governança em diferentes continentes, atingindo até mesmo a maior potência entre as nações, agora administrada por um líder rude, de ideias tacanhas e comportamentos esquisitos e que envolveu filhos, genro e outros familiares no governo em atitude nada republicana. Saem os estadistas, chegam os "brucutus"; ideias, programas e projetos são preteridos por atos insólitos e atitudes grotescas. E as maiorias aplaudem, sufragam, preferem. Da velha Europa à jovem América e por todo o restante do planeta, este é o risco das instituições democráticas no momento: a tendência da multidão ao comportamento de manada arrebatada pelo novo carisma, o de lideranças polêmicas, despreparadas, rudes, exóticas, agressivas.
As redes sociais, através das possibilidades da internet, abriram horizontes impensáveis e criativos, porém, logo foram povoadas pelo que de pior as pessoas guardavam no recôndito de seus pensamentos e sensibilidades. Assim, tornaram-se campos para exageros, violências, com ausência de compostura, limites e compreensão. Nelas não há tolerância, respeito ao outro, aceitação da divergência.
O que acontece com a humanidade? Quando tanto são os progressos, as ferramentas e as oportunidades disponíveis, há essa preferência por atraso, aberração, ausência de qualidade artística ou cultural, grosseria nas relações humanas, governos com lideranças grotescas e condutas retrógradas. Um paradoxo deste terceiro milênio ainda nos seus albores.
Para quem já está no ocaso existencial, como eu, resta a expectativa de que seja onda passageira e se descortinem tempos melhores, mesmo que não seja no meu ciclo existencial.
Afinal, tanto sonhamos e idealizamos esta "era de aquarius".